Internacional portuguesa foi entrevistada pelo site do organismo que tutela o futebol mundial.
A um mês e meio do play-off intercontinental de acesso ao Mundial Feminino, o site FIFA+ conversou com a internacional portuguesa Jéssica Silva e levou-a a revisitar as jogadas mais vistosas da sua carreira.
A avançada da Seleção Nacional e do SL Benfica falou também do sonho de marcar presença no Campeonato do Mundo Feminino de 2023, que decorrerá em Austrália e Nova Zelândia, entre os dias 20 de julho e 20 de agosto.
Leia a entrevista completa:
Após viralizar com dribles, Jéssica Silva luta para levar Portugal ao primeiro Mundial
Fã de Marta e Cristiano Ronaldo, Jéssica Silva fala com o FIFA+ sobre seus dribles virais e a busca de Portugal pela Copa do Mundo Feminina de 2023.
oi uma jogada que fez todos os queixos caírem no Estádio Den Dreef. Que bombou na Internet. Que deu a súbita impressão de ter saído barato para Charles Pérez a humilhante caneta aplicada por Juan Román Riquelme no Estádio Gigante de Arroyito há duas décadas.
"Você não deixa a bola sair, ganha um canto e fá-lo de maneira brilhante", refletiu Dolores Silva, após o que foi a partida perfeita para os amantes de fortes emoções.
Mas o roteiro preparado por Jéssica Silva jamais cairia no convencional. Afinal, a atacante portuguesa ostenta a imaginação de Agatha Christie e a genialidade de Clarice Lispector. O drible por ela assinado rivalizaria com o famoso elástico de Rivellino sobre Portela no Maracanã, a caneta de calcanhar de Fernando Redondo sobre Henning Berg nas quartas de final da UEFA Champions League e a de Riquelme, desta vez sobre Mario Yepes, no superclássico entre Boca Juniors e River Plate.
Jéssica rolou a bola com o calcanhar direito para o pé esquerdo e, em movimento, tocou entre as pernas levemente abertas de uma Laura Deloose atônita na linha de fundo. O lance encantou o mundo. Mas ele só deixou Jéssica satisfeita pelo que aconteceu em seguida: seu cruzamento forçou a Bélgica a cometer um penálti, que Dolores cobrou para garantir um ponto de última hora na qualificação para o Campeonato do Mundo de 2019, na França.
Portugal encerrou aquela campanha em terceiro lugar no Grupo 6. Contudo, após superar Bélgica e Islândia na repescagem europeia, o país está a uma vitória de se classificar para o Mundial Feminino pela primeira vez. O FIFA+ conversou com a atacante de 28 anos sobre o confronto com Camarões ou Tailândia por uma vaga na Austrália e Nova Zelândia 2023 e também sobre o apoio de Cristiano Ronaldo.
FIFA+: Portugal estava num grupo difícil no Europeu Feminino, mas jogou muito bem contra Suíça e Países Baixos antes da derrota com a Suécia. O que achou da campanha?
Jéssica Silva: No geral foi uma campanha positiva, mas deixou-nos com água na boca pelo que poderia ter sido. Sentimos que poderíamos ter somado pontos contra a Holanda e derrotado a Suíça. Portugal cresceu muito nos últimos quatro anos. Estávamos a defrontar equipas consagradas, que estão à nossa frente no Ranking [Mundial Feminino da FIFA/Coca-Cola]. Provámos que podemos competir com elas. Acho que a sorte não esteve ao nosso lado contra os Países Baixos, mas o fato de termos jogado tão bem contra uma seleção tão boa foi fruto do nosso trabalho. Deu confiança.
Qual foi a sensação quando Portugal goleou a Islândia por 4 a 1 no prolongamento e se qualificou para o 'play-off' intercontnental?
Foi um grande dia para mim – foi um grande dia para todas nós –, mas eu acordei com a notícia de que a minha avó havia falecido. Ninguém esperava, ela não estava doente. Eu estava arrasada, mas não tive tempo para chorar. Eu tinha uma partida importantíssima para jogar. Você não entende o quanto eu sonhei em jogar no Mundial, e a minha avó queria muito isso para mim, então eu fui jogar para ela. Eu fiquei muito contente que ganhámos, que demos mais um passo rumo ao nosso sonho, e foi muito bom ver todas as minhas companheiras tão felizes. Mas eu realmente fiquei com um misto de emoções. Dediquei a vitória à minha avó, mas eu ainda estava muito chateada.
Quanto você sonhou com o Campeonato do Mundo?
(Risos) Sonhei mais do que imagina! Sonhei muito com o Campeonato da Europa. Eu quase fui em 2017, mas uma lesão pôs fim ao meu sonho. Felizmente consegui jogar o Campeonato Europeu no ano passado, e correspondeu a tudo que eu esperava. Representar o seu país num grande torneio é incrível. O Mundial é a maior competição que existe. Acho que é o grande sonho, a meta de qualquer jogadora. Não tenho palavras para descrever qual seria a sensação de vestir a camisa de Portugal no Campeonato do Mundo. Sonhamos tanto com isso e agora estamos muito perto. Não posso nem imaginar o que seria ficar de fora do Mundial. Estamos a fazer tudo o que podemos para garantir que estaremos lá.
Na sua opinião, o que a qualificação para a Austrália e Nova Zelândia-2023 faria pelo futebol feminino em Portugal?
Tudo, absolutamente tudo. É uma competição a que o mundo inteiro assiste. Eu acho que este Mundial será enorme. O Campeonato Europeu já foi incrível, então mal posso imaginar como será o Mundial, Acho que esta prova vai levar o futebol feminino a novas alturas. Seria gigantesco para o desenvolvimento do futebol feminino em Portugal se participássemos.
Pode contar quem são seus ídolos no futebol?
A Marta e o Cristiano foram uma inspiração enorme para mim. Dentro e fora de campo. Eles têm um talento extraordinário, mas trabalham muito e entregam-se muito. Eles fizeram tanta coisa pelo futebol, ganharam tanta coisa e continuam a querer mais. Eles são exemplos para mim. O Ricardinho (ídolo português do futsal) também é uma grande inspiração para mim. Ele é outro que possui um talento extraordinário, mas trabalhou e lutou muito e, após tantos anos tentando, conseguiu colocar Portugal no topo do mundo.
Encontrou Cristiano algumas vezes, certo?
Todo o mundo sabe quem é o Cristiano e todos os títulos que ele conquistou, mas pouquíssimos conhecem o ser humano que ele é. O Cristiano é uma pessoa cinco estrelas. Ele é muito atencioso e gentil. O Cristiano é um homem muito especial e, na minha opinião, o melhor [jogador] de todos os tempos. Ele não é só um embaixador do futebol português, mas do futebol mundial. Somos um país pequeno, e ele fez muito por nós. Ele é uma inspiração para toda a Seleção Feminina. Ele apoia-nos muito. É um verdadeiro patriota. Sou muito grata ao Cristiano.
É famosa pelos dribles, e aquele 'túnel' fora de série contra a Bélgica em 2018 foi um dos que viralizaram. Estudou os especialistas nesse drible e treinou muito para desenvolver esse talento?
Quando era criança, lembro-me de assistir a vídeos no YouTube. Sempre gostei de ver dribles lindos. Mas os meus não são algo em que pense ou que pratique nos treinos. Acontecem naturalmente durante os jogos. Eu nunca sei como explicá-los. São espontâneos. Às vezes eu acho que é a melhor maneira de sair de determinada situação, que foi o que aconteceu com o que viralizou. Sou do tipo de jogadora que gosta de driblar, de fintar, de aplicar 'túneis' e outros dribles, e é claro que é bom deixar os adeptos felizes. Mas vencer os jogos e ajudar o meu clube e a minha Seleção a conquistarem os seus objetivos é o que mais importa para mim.
Quem considera as jogadoras mais talentosas do planeta?
Marta sem sombra de dúvida é a rainha. Para mim ela é a melhor jogadora de todos os tempos. Eu nunca vi uma jogadora com a qualidade da Marta. Em termos de drible e habilidade, acho que ninguém se compara à Marta. Ela é simplesmente incrível. Depois da Marta, acho que Delphine Cascarino, Amel Majri e Alexia [Putellas] são todas extremamente talentosas.
Para finalizar, Portugal estará na Austrália e Nova Zelândia-2023?
Sim. Acho que todas as minhas companheiras dariam a mesma resposta. Sabemos que Camarões e Tailândia estiveram nos dois últimos Mundiais e não vai ser fácil, mas nós realmente acreditamos na classificação. Portugal simplesmente precisa estar no Mundial.
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