"Temos de ter mais mulheres nos cargos de decisão do futebol"

Football Talks

Vanda Sigurgeirsdottir, presidente da Federação da Islândia, Nuria Martinez Navas, “team manager” da Seleção de Espanha, e Raquel Rosa, economista e agente no Football Talks + Extra Time

Três exemplos, um só caminho: nunca desistir de lutar. Esta a forte mensagem que três mulheres, com poder de decisão no futebol, deixaram a uma plateia de cerca de 100 pessoas esta tarde de segunda-feira na mesa-redonda promovida no âmbito da iniciativa Football Talks + Extra Time.

Vanda Sigurgeirsdottir, presidente da Federação da Islândia, Nuria Martinez Navas, “team manager” da Seleção A de Espanha, e Raquel Rosa, economista e agente, falaram das suas experiências de carreira no edifício-sede da Federação Portuguesa de Futebol.

A dirigente islandesa, antiga jogadora e treinadora, atualmente com assento na UEFA, começou por recordar que começou esta luta muito cedo: “Tinha 10 anos quando comecei a perceber que havia diferenças. E, mais tarde, teria já uns 20, ao serviço da minha seleção, impus-me quando vi que os futebolistas homens entravam primeiro nos hotéis e nós tínhamos que ficar à espera, no autocarro”.

“Temos que ter mulher onde há decisões, na governação do futebol temos de ter mais mulheres, estamos a viver grandes mudanças”, assinalou. “Tudo passa por decisão, por decidir que as mulheres têm de estar nesses cargos. Foi assim na Islândia: decidiu-se nesse sentido. E a diversidade permitiu-nos trabalhar melhor”.

A espanhola Nuria Martinez Navas, a única mulher que esteve sentada num banco de jogo no último Mundial, no Catar, concorda com a ideia de que se está “no caminho de haver mais mulheres no mundo do futebol de elite”. “Até porque, no final do dia, o futebol é para toda a gente”, acrescentou.

Raquel Rosa, por seu lado, defende que as mulheres devem acreditar nas suas competências e não se deixarem enredar em questões que nada têm a ver com competência e capacidade de trabalho. Porém, admite que, no que diz respeito ao agenciamento de jogadores, ainda há poucas mulheres, considerando que tal se pode ficar a dever ao facto de ser “um trabalho duro, onde há muita competição”.

“Temos cada vez mais agentes no futebol feminino e mais virão. O trabalho de um agente é muito duro, temos que andar de um lado para o outro, temos de ter muito cuidado com o network, com os poderes, caso contrário não duramos muto tempo”, acrescentou.

Considerou ainda que “quando se chega a um alto nível, não é importante ser mulher ou homem”. “Não cheguei onde cheguei por ser mulher ou homem, mas porque me foquei sempre muito nos objetivos”, disse ainda, fazendo notar que ela própria é que traçou limites ao seu trabalho: “Não quero estar à uma da manhã a beber uma cerveja ou com um copo de vinho a discutir contratos. Tenho de lutar pela negociação e objetivos de uma forma diferente da que fazem os homens. Temos que descobrir por nós próprias esses meios”.

Em modo de síntese, Vanda Sigurgeirsdottir puxou por uma ideia de língua empresarial recente: “Podem chamar-nos – às três - unicórnios, mas estaremos aqui daqui a 20 anos para ver. E há que mudar já muita coisa. Por exemplo, mudar os nomes às competições. Por que é que chamamos Mundial feminino e apenas Mundial quando é só futebol masculino? Não se diz que a Nuria é ‘da Seleção masculina’, diz-se que é da seleção espanhola”.

Na abertura da sessão, José Couceiro, vice-presidente da FPF, recordou que a instituição tem várias mulheres em cargos de decisão e nos topos das várias hierarquias.


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