O país de Cristiano Ronaldo e dos eventos

Football Talks

A marca Portugal e o contributo do desporto para a sua importância no Mundo estiveram em debate no Football Talks.

Que português nunca foi ao estrangeiro e ouviu a referência “Ah, Cristiano Ronaldo!” quando revelou a origem? Os feitos globais dos desportistas nacionais são uma realidade desde que Eusébio brilhou a grande altura no Mundial de 1966 e projetam a imagem do país internacionalmente. Joaquim Agostinho, Carlos Lopes, Paulo Futre e Luís Figo – um dos participantes, como embaixador da Seleção Nacional AA, no painel “Desporto: veículo promocional de Portugal no Mundo", que decorreu esta terça-feira no Football Talks – ou José Mourinho são outros exemplos de uma realidade cada vez mais generalizada numa sociedade (quase) global. Hoje, muitos desportistas portugueses estão espalhados pelo Mundo, contribuindo com o seu talento para que o país de nascimento seja divulgado além-fronteiras. Além disso, Portugal tem sido palco da organização de grandes eventos, do Europeu à Liga das Nações, às duas Ligas dos Campeões.

“Falo por experiência pessoal: o desporto português é das mais-valias em termos de promoção do país. Todo o adepto do desporto tem um conhecimento da nacionalidade de quem o representa”, começou por referir Luís Figo, que esteve acompanhado no debate por Ticha Penicheiro (ex-basquetebolista), Catarina Araújo (Câmara Municipal do Porto), Luís Araújo (Turismo de Portugal) e Paulo Salgado (Universidade do Minho).

“Fui para os EUA com 19 anos, quando não havia internet. Quando dizia que era portuguesa, respondiam-me, 'ah do Brasil ou de Espanha', ninguém sabia onde era Portugal. Comecei a ficar enervada, porque gosto de ser portuguesa, apesar de agora também ter nacionalidade americana. Passei a apresentar-me como 'Sou a Ticha, de Portugal, aquele país ali ao lado de Espanha'. Agora toda a gente sabe onde nós estamos e quem somos”, referiu Ticha, a primeira portuguesa a jogar na WNBA.

Para Catarina Araújo, “o nome de Portugal é uma marca no desporto, e no futebol em particular, temos de reconhecer a sua importância estratégica”. “É um sector onde temos dado cartas lá fora, sem esquecer os campos de golfe ou a costa que permite a prática do surf. Muito por mérito dos atletas, clubes, federações e da capacidade de organização de grandes eventos. É interessante pensarmos como isto acontece num país como Portugal. A nossa base de recrutamento é muito menor mas temos o mérito e a capacidade de estarmos nos rankings desportivos. Muito deve-se à capacidade de apostar na formação e no conhecimento. O Cristiano Ronaldo tem um impacto estratosférico, com mais de 460 milhões de seguidores, também aproveitando as redes sociais que existem hoje”, acrescenta.

Para Luís Araújo, a organização de grandes eventos “é estratégica e essencial”. “Estamos no top 10 a nível de organização de congressos. Aquilo que é feito em Portugal corre bem. É um valor seguro. Esses eventos trazem-nos um público internacional e dão a imagem de país aberto, inclusivo, que acolhe e organiza bem. Fazemos um estudo a cada cinco anos sobre Portugal e é muito interessante ver a evolução dessa marca em todos os mercados onde fizemos o estudo”, referiu.

“É importante termos eventos que tragam visibilidade mas também darmos a conhecer que foram bem organizados e tiveram impacto. Fazer com que sejam os eventos a quererem estar cá. Isso passa por dar visibilidade aos eventos que já deram visibilidade, dos quais sabemos muito pouco e que mal chegaram à comunicação social. Chamar as populações locais e dizer 'queremos que vocês estejam aqui'. Temos de dar condições ao desporto para proliferar dessa forma e depois sim, organizar os grandes eventos. Já somos grandes, mas podemos ser mais”, acrescentou Paulo Salgado.

Luís Araújo deu mais um exemplo: “Chegamos a mais de 170 milhões de pessoas em todo o mundo e a campanha que teve mais impacto foi a do miúdo português que abraçou um adepto francês depois da final do Euro 2016. O que aquele miúdo fez naquele momento nós fazemos todos os dias e é o que Figo ou a Ticha faziam quando participavam num campeonato”.

“Acho que, acima de tudo, a formação é o mais importante para qualquer país, no futebol ou noutra área qualquer de atividade, pois são esses jovens que vão liderar as empresas ou dar grandes desportistas. Sem formação é impossível ter sucesso. Em Portugal sempre se trabalhou muito bem na formação desportiva, por isso, apesar de sermos um país mais pequeno, temos tido muitos êxitos desportivos. Temos bons campeonatos, boas infraestruturas mas pode sempre melhorar-se aquilo que temos, depende muito das pessoas que estão à frente das entidades competentes. Pode-se sempre melhorar, pessoalmente sempre foi o meu lema”, acrescentou Luís Figo.

Para o antigo internacional, “os tempos mudaram bastante, houve uma evolução em todos os sentidos”. “No meu tempo, jogava com os amigos na rua, hoje não há espaço para isso. E se não conseguires ter infraestruturas é impossível que haja evolução desportiva. Ainda assim, para conseguir os eventos não bastam conhecimentos e experiência. porque há muita concorrência, é preciso saber vender o país. Se não houvesse uma pessoa influente nos comités executivos, provavelmente não conseguiríamos organizar esses evento.”

Em resposta, Paulo Salgado referiu que “se é importante ter pessoas nos orgãos de decisão, então temos de ter uma estratégia para isso”. Para ter a estratégia para vender é preciso colocar as pessoas certas no lugar certo. "Liderança é fundamental e o papel dos ex-profissionais é fundamental e devem ter uma palavra naquilo que é a politica do desporto”, disse ainda.

Já a possibilidade de Portugal co-organizar o Mundial 2030, entusiasmou Luís Araújo. “A nossa prioridade é a visibilidade do país. Um Mundial seria uma situação extraordinária mas só o facto de concorrermos já será positiva. Mais que o próprio evento em si, é este percurso que é importante. A marca Portugal hoje, é uma marca fortíssima, capaz de penetrar e ser admirada em qualquer parte do mundo”, assinalou.


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