Há um ano fez-se a festa no Paraguai

Futebol Praia - Seleção A

A 1 de dezembro de 2019, Portugal conquistou o Campeonato do Mundo de Futebol de Praia do Paraguai.

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Há precisamente um ano escrevia-se mais uma página dourada na história do desporto português. A Seleção Nacional de Futebol de Praia conquistou, a 1 de dezembro de 2019, o seu terceiro Campeonato do Mundo (depois das vitórias de 2001 e 2015), num caminho exigente, intenso e apaixonante que pode ser recordado aqui:

Os passos firmes dos Campeões do Mundo 

A caminhada da Seleção Nacional no Paraguai foi iniciada em Sesimbra, com vários dias de trabalho, uns sob sol intenso, outros perante um tempo frio próprio e aceitável para a altura do ano. No entanto, e como já foi realçado diversas vezes pelos intervenientes, a Equipa das Quinas chega à América do Sul guiada por um espírito que foi fortalecido e alimentado alguns meses antes. Na tarde de 27 de julho, em Moscovo, Portugal estava pressionado. Nessa fase de qualificação para o Mundial, somava duas derrotas (frente a Itália e Bielorrússia) e uma vitória (diante da Polónia). A formação portuguesa uniu-se, juntou esforços, percebeu que era hora de dar a volta e sorrir. Enfrentava, nesse dia, a Espanha e, num jogo recheado de incidentes, a decisão vai para penáltis (depois de uma igualdade a cinco golos), onde a formação portuguesa garante o passaporte para o Paraguai (2-1). Já depois de ter ganho os Jogos Europeus de Minsk, este grupo de jogadores (que é muito mais que os 12 elementos presentes no Mundial) interiorizou que 2019 seria dourado. Arrebatou o Mundialito com uma categoria assinalável e sagrou-se Campeão da Europa de forma indiscutível, após vitórias frente a Turquia, Ucrânia, Itália e Rússia, na Figueira da Foz. A Equipa das Quinas chega ao Mundial com a plena convicção de que o sucesso seria possível se a equipa fosse igual a si própria, ou seja, um grupo de jogadores provenientes das mais variadas zonas do país (e não só), mas que formam uma família de guerreiros dispostos a deixar tudo em campo, pelo bem da equipa, dos colegas e pelo amor a Portugal.

Na semana que antecedeu a estreia na prova, o discurso dos jogadores seguiu um padrão comum. Mostraram-se conscientes de que o caminho tinha obstáculos exigentes, mas todos eles salientaram a força e a valia da equipa lusa. Reconhecer qualidades e demonstrar ambição não é colocar-se de bicos de pés, trata-se apenas de uma leitura consciente do passado, presente e futuro da Seleção. Durante este percurso foram notórios alguns fatores que acabaram por ser determinantes. Em quatro dos seis jogos disputados, Portugal começou as partidas em desvantagem. Para além da qualidade dos jogadores, a equipa revelou sempre grande convicção no tricampeonato. De Moscovo a Assunção, os campeões constroem-se. 

Portugal 10-1 Nigéria
1.ª jornada - Fase de Grupos 

Entrada imponente  
O resultado inaugural pode ter o condão de embalar ou travar o ímpeto de uma equipa. A Equipa das Quinas agarrou o futuro e marcou presença. Perante uma formação africana que se apoiava fundamentalmente na capacidade física dos seus jogadores, Portugal começou a perder, mas o golo de Azeez Abu no 1.º Período acabou por funcionar como um despertador e a resposta foi categórica. Dez golos sem resposta, cinco no 2.º e 3.ºs Períodos, colocaram um “letreiro” bem visível no Estádio Mundialista “Los Pynandi”, onde se podia ler que Portugal estava ali para ganhar. A formação orientada por Mário Narciso não deu nada como garantido. Estava ali com um propósito e só uma contrariedade muito forte poderia travar quem ali estava para sonhar.

Brasil 9-7 Portugal  
2.ª jornada - Fase de Grupos 

Um espectáculo decidido nos detalhes 
Já com três pontos cada conquistados, Portugal e Brasil entravam em campo em Assunção com a noção de que o vencedor deste duelo iria ficar em 1.º lugar do agrupamento. A partida era encarada como se se tratasse de uma final antecipada, tendo em conta que se estavam a defrontar duas das melhores equipas do Mundo e, claramente, as mais tituladas da história da modalidade. O Campeão do Mundo frente ao Campeão da Europa. É inquestionável dizer que se assistiu a um dos melhores jogos de futebol de praia dos últimos tempos. Houve emoção, golos, equilíbrio e incerteza até ao final. O Brasil acabou por sorrir no final, mas a Equipa das Quinas foi para os balneários com a consciência de que poderia ter somado mais três pontos e, sobretudo, convicta de que num próximo embate a vitória cairia para o lado português.

Omã 1-3 Portugal
3.ª jornada - Fase de Grupos 

Ganhar e passar, acima de tudo 
O terceiro jogo da fase de grupos, em virtude dos dois últimos resultados, era decisivo para carimbar a passagem aos quartos de final. A formação lusa sabia que tinha pela frente um adversário aguerrido e com capacidade. “Equipa chata”, como disse André Lourenço na antevisão. Omã entrou em campo com um claro objetivo: anular o jogo português e condicionar ao máximo as movimentações dos jogadores lusos. Não foi o jogo mais bonito do Mundial, até pela postura e estratégia do adversário, mas Portugal reconheceu que a prioridade era ganhar e garantir a qualificação para a fase seguinte. A bola, nesse dia, revelou teimosia em entrar. Entrou três vezes na baliza no adversário e fora suficientes para alcançar o desejado objetivo. A caminhada dos campeões não se faz unicamente de goleadas e jogos bonitos. O caminho dos campeões é feito por vitórias.

Senegal 2-4 Portugal 
Quartos de final

A força da técnica triunfou 
Nos quartos de final do Mundial, a Equipa das Quinas enfrentava aquela que era, muito provavelmente, a sensação da competição até aquele momento. O Senegal tinha encerrado o Grupo C em 1.º lugar, deixando a Rússia atrás de si e atirando a Bielorrússia para fora da prova. Um adversário recheado de jogadores fortíssimos fisicamente, o que iria obrigar Portugal a ter elevados níveis de concentração em todos duelos individuais. Tal como na grande maioria dos jogos, Portugal começou em desvantagem. Esse facto, tal como nas partidas anteriores, não retirou convicção à equipa e a resposta foi, mais uma vez, irrepreensível. Com um domínio de jogo assinalável, a formação portuguesa utilizou a sua qualidade técnica para impor o seu jogo e fazer correr os senegaleses. Dinâmica e movimentação, as grandes armas do sucesso português nesta partida. A força da técnica venceu, de goleada, a técnica da força.

Japão 3-3 (1-2) Portugal 
Meias-finais

Tempestade dos penáltis trouxe justiça 
Tal como havia sucedido nos “quartos”, Portugal encontrava uma das equipas que tinha despertado mais atenção. Liderada pelo enorme Ozu Moreira, o Japão encantava pela sua disciplina táctica, disponibilidade física e pela inteligência de jogo. Adversário difícil e exigente, que acabou por exigir tudo da Seleção Nacional. Portugal conseguiu superar-se e chegou a estar com o bilhete para as meias-finais até bem perto do final. A escassos 40 segundos do final, os nipónicos marcam no seguimento de uma bola parada e levaram as decisões para os penáltis. A tempestade, que já tinha tido grande impacto no Rússia - Itália (o outro jogo das meias-finais), voltou a aparecer em força e o dilúvio que se abateu sobre o Estádio Mundialista “Los Pynandi” trouxe justiça. Vitória portuguesa no desempate e final garantida com todo o mérito.

Itália 4-6 Portugal
Final

Campeões da convicção
Quando Zurlo, aos 5’, festejou efusivamente o golo inaugural no Estádio “Los Pynandi”, e colocou Itália na frente do marcador no jogo decisivo, os rostos dos 12 elementos da Seleção Nacional de Futebol de Praia não se fecharam, não houve desespero, nem um grão de desânimo. Na cara de todos os portugueses em campo, incluindo a equipa técnica, notava-se convicção. Havia firmeza na receção, segurança a cada toque de bola, confiança em toda as arrancadas. Pela forma como Portugal estava a jogar, apesar da desvantagem no placard, a areia não escaldava, nem as pernas tremiam. Dois minutos volvidos, Léo Martins carregou na sua perna direita a voz de 11 milhões e fez o 1-1, resultado que se manteve até ao fim do 1.º período. Aos 17’, num ataque desenhado por Léo Martins, a bola foi endossada para Jordan, que, usando a sua demolidora canhota, desfeiteou Del Mestre e alimentou ainda mais a confiança de que o título seria escrito em português. Ainda nem marcador assinalava o 2-1, já André Lourenço estava a sonhar. O estreante, natural de Leiria e com 24 anos, correu com a convicção de quem tem a certeza que será feliz, correu com a firmeza de quem sabe para onde vai, correu como quem tem fome de vencer. O canhoto emendou a defesa defeituosa do guarda-redes italiano ao remate de Jordan e festejou feliz, firme e vitorioso. O jogo ficou muito disputado depois do 3-1. Os italianos entenderam que, para inverter as circunstâncias da partida, teriam de aumentar os níveis de intensidade na partida. Aos 25’, e na sequência dessa nova postura dos transalpinos, há livre direto para Portugal. O pé esquerdo de Jordan voltou a ser chamado à ação e não desiludiu: remate fortíssimo e 4-1. Gori, pequeno bombardeiro que foi o melhor o marcador da prova (16 golos), estava a ser anulado perfeitamente pelos portugueses. Ou era Bruno Torres ou Rui Coimbra. Os fixos portugueses atiraram constantemente a ameaçadora bicicleta do italiano para fora do Paraguai. À passagem dos 26’, o mesmo Gori teve a soberana chance de voltar à América do Sul, mas o seu penálti acabou por esbarrar numa muralha chamada Elinton Andrade. Léo Martins (27’) voltou a dispor de um livre direto e voltou a não dar hipóteses a Del Mestre, fazendo o 5-1. Era uma vantagem confortável, um marcador que dava algum conforto. No entanto, não há comodidade no futebol de praia, os golos aparecem de todo o lado, sem aviso prévio e sem tocar à campainha. Em poucos segundos, a Itália marca dois e reduz perigosamente para 5-3, por Ramacciotti (31’) e Gentilin (31’). O ímpeto italiano acabou por levar Jordan novamente para uma bola parada. O Melhor Jogador do Mundo pegou na bola, aglomerando a convicção de toda a equipa, ciente da importância do momento e com a confiança necessária que a ocasião exigia, e fez o 6-3, despertando a festa antecipada no estádio. No desespero total, a Itália marca a dez segundos do final por intermédio de Ramacciotti. A bola foi ao centro, regressou a Andrade e subiu para as nuvens, enquanto o cronómetro avançava desenfreadamente rumo aos 36’, uma galopada frenética que só teve fim no som firme de uma buzina que simbolizou o final da partida. A bola tocou no céu, assim como Portugal. Tricampeões do Mundo. Convictamente campeões, campeões da convicção.

Ficha de Jogo
FIFA Mundial de Futebol de Praia 2019
Assunção, Paraguai
Estádio Mundialista “Los Pynandi”
Final

1.º Árbitro: Ivo Moraes (Brasil)
2.º Árbitro: Said Hachim (Madagásgar)
3.º Árbitro: Ingilab Mammadov (Azerbaijão)
Cronometrista: Sofien Benchabane (França)

ITÁLIA 4-6 PORTUGAL (1.º P: 1-1) (2.º P: 1-3) (3.º P: 4-6)

Itália (cinco inicial): Simone Del Mestre, Josep Junior Gentlin, Alfioluca Chiavaro, Dario Ramacciotti e Gabriele Gori
Jogaram ainda: Andrea Carpita, Francesco Corosiniti (Cap.), Frainetti, Simone Marinai, Paolo Palmacci, Percia Montani e Emmanuele Zurlo
Treinador: Emiliano Del Duca
Golos: 1.º Período: Zurlo (6'); 3.º Período: Dario Ramacciotti (31' e 36') e Josep Junior Gentilin (31')
Disciplina: Cartão amarelo a Del Mestre (27'), Chivaro (27') e Ramacciotti (34')

Portugal (cinco inicial): Elinton Andrade, Rui Coimbra, Jordan, Bê Martins e Léo Martins
Jogaram ainda: Tiago Petrony, Bruno Torres, André Lourenço, Rúben Brilhante, Belchior, Von e Madjer (Cap.)
Treinador: Mário Narciso
Golos: 1.º Período: Léo Martins (7'); 2.º Período: Jordan (18') e André Lourenço (18'); 3.º Período: Jordan (26' e 35') e Léo Martins (28')
Disciplina: Cartão amarelo a Jordan (27') e Belchior (29')


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1 de Dezembro 2020
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