Estudo sugere que futebol não parece ser uma atividade de alto risco

Portugal Football School

Investigação analisou duas medidas de exposição respiratória ao contacto interpessoal a que os jogadores e árbitros estão sujeitos durante um jogo de futebol.

Numa altura em que o mundo se encontra assolado pela pandemia de COVID-19, a Portugal Football School da Federação Portuguesa de Futebol, juntamente com investigadores da Universidade de Évora, Universidade do Porto, Instituto Universitário da Maia, Universidade da Beira Interior e Universidade Nova de Lisboa, monitorizaram as dinâmicas de um jogo futebol – cuja análise sugere que o futebol não é uma modalidade de alto risco de exposição respiratória para a transmissão da COVID-19, corroborando a classificação avançada pela Direção-Geral da Saúde na Orientação 036/2020 de 25/08/2020 de modalidade de “médio risco”.

Neste estudo, que procurou analisar a aplicabilidade da utilização dos dados de tracking recolhidos durante os jogos de futebol na avaliação do contacto interpessoal entre indivíduos, foram calculadas duas medidas de exposição respiratória. Foram analisados os posicionamentos e movimentações dos jogadores e árbitros durante um jogo de futebol que terminou empatado a três golos, através de um sistema com câmaras super-HD e tecnologia de processamento de imagem patenteada (utilizada em campeonatos como a Premier League, Bundesliga, La Liga, Eredivisie, Liga dos Campeões e jogos internacionais da UEFA e da FIFA).

A primeira medida de exposição respiratória, calculada para cada indivíduo, foi baseada no tempo passado a uma distância inferior a 2 metros em relação aos outros indivíduos. Já a segunda medida, foi calculada, adicionando à primeira medida, o tempo de exposição à “nuvem” de gotículas respiratórias formada pelo movimento dos outros indivíduos.

Os resultados do estudo apontam que esta metodologia de análise poderá ser utilizada para avaliar a exposição respiratória decorrente do contacto interpessoal e consequente estratificação do risco da prática e competição de diferentes modalidades desportivas ou atividades físicas, contribuindo para o planeamento de diferentes atividades no contexto da pandemia de COVID-19.

Bruno Gonçalves, da Universidade de Évora

“Foi uma colaboração que juntou profissionais das ciências do desporto e da saúde pública, ao qual tive o gosto de partilhar quando se juntam duas áreas de conhecimento com o mesmo fim. Os resultados deste estudo foram bastante interessantes. O tempo máximo de exposição que identificamos a menos de 2 metros foi de 6 minutos e meio, entre dois jogadores adversários.”

“Este método é de aplicação simples para todos os clubes que tenham esta tecnologia de rastreamento ao serviço dos praticantes, quer em processo de treino, quer em processo de jogo. Portanto, ter um posicionamento instantâneo de todos os intervenientes durante a prática poderá ajudar a tomar decisões com base em informação mais assertiva.”

“Estas tecnologias que até agora eram utilizadas para monitorizar cargas podem agora ser mais direcionados para esta área de intervenção, que é a quantificação do contacto interpessoal. Os resultados do estudo apontam que esta metodologia pode ser utilizada daqui para a frente não só em competição, mas também nas sessões de treino, na eventualidade da necessidade de rastrear os contactos de um caso suspeito ou positivo de COVID-19.”

“Este estudo acaba por ser muito pertinente por termos uma ferramenta de fácil uso e que nos possa ajudar a tomar decisões mais assertivas, ou seja, enquanto que as pessoas acabam por pensar ou ter uma conceção de que estão 22 jogadores mais o árbitro dentro de um retângulo, parece que o contacto é muito permanente e de muita proximidade. Mas quando quantificamos, e foi mesmo esse o objetivo, percebemos efetivamente que não é assim tanto contacto quando comparado com outro tipo de contactos mais sociais.”

“Os resultados deste estudo demonstram que o futebol não parece ser uma atividade de alto risco para a transmissão do SARS-CoV-2. É uma ferramenta simples e pode ser facilmente utilizado por clubes que tenham este tipo de tecnologia.”

Adalberto Campos Fernandes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa

“Trata-se de uma abordagem inovadora e consistente que contribui para o aprofundamento do conhecimento na relação entre prática desportiva de grupo e o risco associado em contexto epidemiológico adverso.”

Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto

“O estudo fornece informação relevante para compreender o risco de transmissão na perspetiva das situações de contacto; pode ser visto como um contributo para decidir sobre as chamadas medidas não farmacológicas de prevenção da infeção. Naturalmente, contribui também para uma melhor "gestão" do receio com que as atividades de contacto social poderão ser encaradas.”

“A prática desportiva é aconselhável, mesmo em grupo. Como espetáculo, mas sobretudo como usufruição de exercício físico, e como estímulo mental. É preciso testar estratégias e soluções, e com aprendizagem continuada das regras de convivialidade. Sobretudo pode ser um enorme contributo para a prevenção da patologia mental.”

O estudo foi publicado na revista Sensors e está disponível em acesso livre e gratuito (https://www.mdpi.com/1424-8220/20/21/6163).


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