Litos: “Uma semana maravilhosa!”

Seleção A

12 de outubro de 1985. Portugal-Malta, 3-2. Estádio da Luz.

Da inesquecível estreia na Seleção A à proeza memorável do apuramento para um Mundial (onde não íamos há três décadas) passaram apenas quatro dias. Foi esse o tempo mágico que Litos, então com 18 anos e talento emergente da formação do Sporting, viveu de forma intensa na Equipa das Quinas.

“Foi uma semana maravilhosa, inesquecível”, recorda Litos sobre a sua primeira convocatória à seleção principal, depois de um trajeto constante nos escalões mais jovens até à Seleção B. “De início, senti grande ansiedade. Era a primeira vez e logo numa altura em que se decidia o futuro de Portugal no Campeonato do Mundo”.

O quadro era este: a Seleção tinha de vencer por muitos golos a Malta para alimentar alguma esperança no caso de terminar em igualdade pontual com a Suécia, num grupo que também tinha a Alemanha Ocidental, vulgo RFA, e a Checoslováquia.

“Eu era um miúdo e partilhei o quarto com o Álvaro Magalhães. Julgava que ele me iria acalmar, mas afinal estava tão ansioso como eu”, recorda Litos, sorrindo ao mesmo tempo que lembra que, naquela altura, a Seleção não era propriamente um mar de rosas: “Durante o estágio, em Palmela, apercebi-me da grande rivalidade que havia entre Norte e Sul e sobretudo entre FC Porto e Benfica. Até nos treinos no Montijo pressentia-se esse distanciamento. Eu sou de São João da Madeira e estava no Sporting e tinha um bom relacionamento com toda a gente, embora especialmente até com a malta do Porto, como o Vermelhinho, com quem tenho relação familiar”.

Chegado ao jogo com Malta, as coisas não começaram bem. “Lembro-me de duas vezes em que o Bento me lançou rápido para o contra-ataque e eu, encadeado pelo sol, não consegui controlar a bola”. Ora, naqueles tempos, um sportinguista na Luz sem ser capaz de dominar a bola não era propriamente ovacionado…

A verdade, porém, é que já na reta final, depois de Portugal se ter deixado empatar (2-2) aos 79 minutos, Litos foi decisivo: “O Carlos Manuel fez um passe a rasgar e eu fui de carrinho e coloquei a bola jogável para o Gomes fazer o golo”.

A vitória fez José Torres desabafar aos jornalistas “deixem-me ao menos sonhar mais um pouco”, mas face ao panorama a esperança era quase só dele. “Ouvimos a frase dele e olhámos uns para os outros com pouca fé”, confessa Litos.

Quatro dias depois em Estugarda, a caminho do estádio, a comitiva portuguesa fica a saber que a Suécia perdera com a Checoslováquia e abria acendia assim uma luz à Equipa das Quinas. “Se ganhássemos, íamos ao Mundial. Bom, só que ganhar à Alemanha não era para qualquer um. Eles já não perdiam há não sei quantos jogos [ndr. A última derrota em jogos de campeonato do Mundo tinha sido na final em 1982 com a Itália] mas a verdade é que ganhámos mesmo, com o golo do Carlos Manuel e com muita sorte à mistura”, reconhece Litos.

O jogador português começou a suplente e lembra-se de olhar para o campo e passar por si Briegel, uma das figuras maiores da Alemanha que também tinha Allofs, Littbarski, Brehme, Rummenigge… “Não está bem a ver, cada gémeo do Briegel fazia duas coxas minhas”, diz Litos.

A vitória garantiu o Mundial (não para Litos, afastado por causa de uma pubalgia) e uma festa de arromba: “chegar a Lisboa e ver aquela massa humana à nossa espera… Eu com 18 anos não imaginava viver uma situação assim tão cedo”.

Nas memórias ficam ainda nomes entretanto desaparecidos e que Litos jamais esquecerá: Bento, José António, Jordão, Frederico, Vítor Damas, José Torres. O futebol português também não.


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