O dia que revelou uma geração

Futebol Fem. - Sub-19

Há oito anos, uma vitória das sub-19 por 2-1 sobre a Bélgica garantiu a primeira participação de Portugal numa fase final de futebol feminino.

No dia 5 de abril de 2012 a Seleção Nacional feminina sub-19 pisou o relvado do Estádio Municipal José Bento Pessoa, na Figueira da Foz, a saber que precisava de uma vitória frente à Bélgica para garantir a participação no Europeu da categoria. Escrito assim parece uma ocasião menos importante do que era: afinal, as comandadas de José Paisana tinham pela frente a possibilidade de se tornarem na primeira Equipa das Quinas a qualificar-se para uma fase final de futebol feminino.

O percurso até aí não tinha sido fácil. Na primeira fase de apuramento, com Arnaldo Cunha como Treinador Nacional, Portugal ficou na segunda posição do seu grupo, garantida com uma vitória (1-0) diante de Israel na última jornada, depois de um desaire frente à República da Irlanda (0-1) e de uma igualdade com a Hungria (3-3). Seguiu-se a Ronda de Elite, onde a formação nacional, já orientada nessa altura por José Paisana, perdeu na estreia frente à República Checa (2-3) e bateu a Noruega (3-1) na segunda jornada, colocando-se em posição de discutir o primeiro lugar do agrupamento e alcançar um feito histórico.

Se o caminho até ao momento decisivo revelava o caráter da equipa (indispensável para ultrapassar as vicissitudes dos jogos internacionais), os nomes que a compunham evidenciam a qualidade intrínseca: Mónica Mendes, Matilde Fidalgo, Rita Fontemanha, Tatiana Pinto, Vanessa Marques, Jéssica Silva, Diana Silva e Joana Marchão são apenas algumas das jogadoras dessa geração que se tornaram internacionais A. Nomes desconhecidos há oito anos, mas que ajudam a perceber o desfecho feliz desta história - à luz da afirmação indiscutível que conheceram posteriormente enquanto jogadoras profissionais.

O jogo com a Bélgica foi tudo menos fácil, como se previa. Ao golo inaugural de Vanessa Marques (21’) respondeu Annelies van Loock (40’) com a igualdade. Numa segunda parte imprópria para cardíacos, Mónica Mendes respondeu bem, de cabeça, a um livre apontado por Tatiana Pinto e deu a vitória a Portugal. Estavam decorridos 89 minutos de jogo e as belgas nem tiveram tempo para reagir. Cumpriu-se Portugal, festejando a qualificação para o Europeu da Turquia. Estava iniciado o ciclo mais brilhante do futebol feminino nacional, que incluiu até ao momento mais três qualificações para Europeus (sub-17 em 2013 e 2019 e AA em 2017).

VEJA AQUI O RESUMO DO PORTUGAL-BÉLGICA E AS DECLARAÇÕES DE JOSÉ PAISANA APÓS O JOGO

José Paisana: “Há que valorizar o trabalho das jogadoras”

A qualificação das sub-19 para o Campeonato da Europa de 2012 foi recordada com satisfação pelo timoneiro da Equipa das Quinas: “Foi um dia histórico, diferente. Também para a equipa técnica, que era composta ainda pela Marisa [Gomes] e pela Carla [Cristina]. Elas ajudaram-me a preparar o grupo e a fazê-lo acreditar que era possível ultrapassar essa barreira. Há que valorizar o trabalho das jogadoras, que foram atrás da nossa mensagem. As horas seguintes à vitória com a Bélgica foram maravilhosas, com toda a comitiva a desfrutar do momento”, explicou o Treinador Nacional José Paisana.

O técnico de 59 anos, que já repetiu a presença num Europeu como treinador principal em 2019, pelas sub-17, diz que esta qualificação representou um momento de viragem: “Acreditávamos que depois desse êxito poderíamos conseguir outros, que se vieram a confirmar. A abordagem estratégica que incutimos nessa equipa foi coerente com o trabalho que estava a ser feito na FPF e que resultou na criação do Plano Estratégico para o Futebol Feminino.”