TOMÉ: “Batismo com bons padrinhos”

FPF

2 novembro 1969. Suíça, 1 - Portugal, 1. Estádio Wankdorf, Berna.

Foram 10 dias memoráveis. Fernando Tomé, então no Vitória FC, estreou-se no dia 2 de novembro pela Seleção Nacional na Suíça num jogo que fechou a frustrante campanha de Portugal na fase preliminar do Mundial de 1970. Quatro anos depois dos Magriços, a Equipa das Quinas falhava a ida ao México.

Isso não tirou significado ao momento. Para Tomé, tratou-se de algo “histórico e marcante. Já tinha sido internacional B, frente à França (1-1) no Estádio Nacional, mas representar a Seleção ao mais alto nível é qualquer coisa de extraordinário. Fui muito apoiado e fiz o meu batismo com bons padrinhos. Em jeito de brincadeira dizia que o senhor Eusébio deixou-me jogar ao lado dele”. Juca era o treinador e José Maria Antunes o selecionador.

O jogo correu de feição até 85 minutos. “Estávamos a ganhar com um golo de Eusébio mas lesionei-me e tive que sair perto do final do jogo. Ficámos com dez, pois já tínhamos esgotado as duas substituições, e… sofremos o golo do empate”. Ficaram, porém, as melhores recordações e, entre elas, “um relógio oferecido pela Federação, uma camisola que troquei com um suíço e o fato de treino que ainda era igual ao do Mundial de 66”, lembra Tomé.

Depois do jogo, o hotel onde a comitiva portuguesa ficou instalada promoveu uma festa. Todos os jogadores dançaram, menos Tomé que, sentado a um canto, fazia tratamento com gelo, seguindo as indicações do dr. Silva Rocha e de Manuel Marques, na esperança de poder recuperar para o jogo seguinte do Vitória FC. “Mas nisto veio uma senhora que me disse, segundo palavras que me traduziram, que tinha pena de me ver sem poder participar na festa. Para ser agradável, limitei-me a levantar-me e sentei-me de seguida”.

Ora, dias depois, o Vitória FC defrontava o FC Porto para o Campeonato Nacional (1969/70) e alguma má língua distorceu o episódio e fez chegar a José Maria Pedroto, então treinador dos sadinos, uma versão diferente. Tomé contou a sua, a verdadeira, mas Pedroto fez ouvidos mocos e convocou-o para o jogo com o FC Porto.

“Fiz tratamentos a semana inteira e apesar das dores que sentia fui para estágio. O José Lima [massagista] empenhou-se na recuperação mas também achou que eu não estava em condições. Foi falar com o senhor Pedroto e ouviu o mesmo que eu ouvi quando cheguei da Suíça: “Se está bom para dançar, também está para jogar”. Assim foi. Joguei e ganhámos 5-0 ao FC Porto. Quando estava 3-0, pedi ao senhor Pedroto para sair. Nada. A cinco minutos do fim, insisti. E ele insistiu também: “quem dança, também pode jogar”. No fim, estava cheio de dores e com o joelho todo inchado”.

A aventura gloriosa não terminava aqui. Três dias depois, o Vitória FC recebia o Liverpool em jogo da 2ª eliminatória da Taça das Cidades com Feiras (antepassada da Taça UEFA, hoje Liga Europa). Tomé ainda não estava a cem por cento, mas voltou a calçar as chuteiras para o grande duelo com os ingleses no Bonfim. O Vitória FC ganhou 1-0. Golo de Tomé…

Um mês depois, a Seleção Nacional voltou a jogar um encontro particular com a Inglaterra em Wembley. “O senhor Pedroto foi requisitado para orientar a Seleção nesse jogo e convocou sete jogadores do Vitória. Eu aí já joguei com o meu número habitual, o 6, em vez do 7. Na estreia, a camisola 6 foi para o Rolando. Bom, mas em Wembley, do Vitória era eu, Conceição, Carlos Cardoso, Guerreiro e Jacinto João fomos titulares. Depois, entrou o Figueiredo “Altafini”. No banco ficou o Vital como guarda-redes suplente. Perdemos 1-0”.


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