Quando ser o melhor da Europa se tornou normal

Seleção A

Portugal celebra um ano sobre a conquista da 1ª edição da Liga das Nações e confirmação como maior potência do futebol europeu.

Confira aqui uma galeria com imagens inéditas da competição

O próprio hino da Liga das Nações, escrito em latim, poderia servir de cartão de visita de Portugal na prova que conquistou na sua primeira e inesquecível edição: “Una! (Unidos!) Lude! (Jogam!) Certa! (Lutam!) Una! (Unidos!) Praesta! (Lideram!) Vince! (Vencem!)”.

De facto, se se fizesse uma biografia da competição, Portugal teria ficado com o papel principal. Melhor, Portugal escreveria o guião, dirigiria a realização e ainda recolheria os troféus de melhor equipa, melhor jogador e melhor marcador. O papel da equipa portuguesa foi tão preponderante que teve cinco jogadores no melhor onze da prova e fez juntar, nas vitrinas da Cidade do Futebol, o belo troféu de vencedor à Taça Henry Delaunay, que conquistara, em França, três anos antes. Não tirando conclusões precipitadas, os comandados de Fernando Santos voltaram a provar ser a melhor equipa europeia.

Muito anos antes do golo de Gonçalo Guedes, após combinação com Bernardo Silva, que garantiu a vitória de Portugal na Liga das Nações, já a marca lusa tinha ficado bem impressa no nascimento da própria competição: Tiago Craveiro, CEO da FPF, foi quem idealizou e propôs pela primeira vez a sua realização numa reunião com Gianni Infantino, então secretário-geral da UEFA e hoje Presidente da FIFA. Diz a história que o dirigente português falou na ideia e “rabiscou uns gatafunhos” que mostrou aos presentes. Infantino tirou uma fotografia e enviou-a ao Presidente da UEFA Michel Platini.

Mesmo com a oposição de muitos dos mais importantes dirigentes da UEFA o desafio de criar uma nova prova de Seleções A na UEFA – a primeira em 60 anos – acabou por vingar. Criar uma prova que ocupasse as datas FIFA, até agora preenchidas por jogos particulares, e, com isso, dar origem a uma competição que pudesse aumentar o interesse das televisões e um maior encaixe financeiro era demasiado aliciante. Juntar, na primeira divisão, as doze melhores seleções e permitir que nos outros três escalões pudesse haver uma maior competitividade e uma subida e descida de equipas conforme os resultados na primeira fase, revelou-se uma excelente ideia: os fãs das seleções nacionais aderiram em massa aos jogos, os direitos televisivos aumentaram de valor exponencial e a UEFA, no ano seguinte à realização a primeira edição, refletiu no seu relatório e contas ganhos adicionais de 400 milhões de euros. Já o sucesso desportivo, a mais importante bitola futebolística, seria inteiramente português.

A estreia de Portugal na competição aconteceu no Estádio da Luz frente a Itália. Numa Seleção Nacional onde pontificavam várias caras novas e onde foi muito comentada a ausência de Ronaldo, que se estenderia, com a concordância de Fernando Santos, ao longo de toda a primeira fase, Portugal venceu com inteira justiça após um golo de André Silva e assistência de Bruma.

A segunda partida, fora de portas, frente à Polónia, foi ainda mais empolgante. Uma excelente exibição e um futebol convincente resultaram numa vitória por 3-2. No dia em que Fernando Santos completava quatro anos de sucessos à frente da Equipa das Quinas, Bernardo Silva, um autogolo de Glick e um tento de André Silva davam seis pontos em dois jogos à Portugal e praticamente garantiam o apuramento para a fase final. Um empate sem golos, em Milão, frente a uma Itália de novo em ascensão no futebol europeu não só garantiu o primeiro lugar no Final Four como a disputa da fase final em Guimarães e no Porto: os italianos eram os únicos adversários para a organização da prova e ficavam pelo caminho. A receção à Polónia, no Estádio Afonso Henriques, terminou com um empate a um golo. André Silva inaugurou o marcador mas os polacos conseguiram tirar algum brilho à festa com um tento de Milik.

Foi em Espinho que Portugal preparou a Final Four onde o sorteio determinou que os portugueses enfrentariam a Suíça e a Inglaterra a Holanda. No primeiro encontro, com o Dragão a transbordar, Cristiano Ronaldo abriu o livro e selou o seu regresso à Seleção Nacional com mais três golos – um livre teleguiado, uma remate de primeira após combinação com Bernardo Silva e uma jogada individual em que sentou o adversário antes de enviar a bola em arco para o fundo da baliza - que seriam, curiosamente, considerados os melhores de toda a competição – ouro, prata e bronze. Nem o golo do empate suíço, na marcação e uma grande penalidade, evitou que um Portugal eficaz e assertivo em todo o jogo garantisse vaga na final. Os lusos iriam disputar o troféu frente à Holanda que ganhou a Inglaterra, por 3-1, após prolongamento.

No dia da primeira final da Liga das Nações a equipa nacional saiu do hotel debaixo do aplauso dos muitos portugueses presentes na praia de Espinho.  À chegada ao Dragão milhares de bandeiras verdes e vermelhas receberam os campeões da Europa. A partida em si foi um manual na arte de bem dominar os holandeses. A supremacia tática e técnica reduziu a equipa laranja a uma dimensão física de onde também não conseguiu tirar proveitos.

Criando mais oportunidades, tendo mais posse, mais domínio, mais sentido de entreajuda, os lusos acabariam por conseguir a vitória numa jogada de virtuosos. Raphael Guerreiro, na meia esquerda após passar o meio-campo, fez um pequeno passe para Gonçalo Guedes que com um toque subtil evitou o corte à queima de De Ligt. Já no enfiamento da área Bernardo Silva, que vira Guedes cruzar-se atrás de si em direção à área, fez um passe recuado. Com Ronaldo a entrar pela meia direita, Guedes pareceu por momentos que ia perder o enquadramento para o remate, mas, já em desequilíbrio, chutou forte e à meia altura junto ao poste direito. O longo Cillessen não teve dedos suficientemente longos para evitar o golo e a vitória de Portugal na Liga das Nações.

Três anos antes a Seleção Nacional não tivera a oportunidade de ir ao Porto festejar a conquista do Euro 2016. Na varanda da Câmara Municipal do Porto, com os Aliados a brilharem de branco com milhares de luzes dos telefones, a dívida foi paga. Nos dias subsequentes, a UEFA anunciaria que Rúben Dias, Nélson Semedo, Bruno Fernandes, Bernardo Silva (também considerado melhor jogador do torneio) e Cristiano Ronaldo faziam parte do melhor onze da Liga das Nações. As escolhas só terão pecado por escassez: a Seleção Nacional provou que era, de novo, a melhor equipa do Velho Continente. Título que, ainda hoje, duplamente, ostenta.

 


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