Edite Fernandes: "Sou destemida por natureza"

SEMPRE EM JOGO

A avançada do CF Benfica é obrigada a sair de casa na quarentena, para trabalhar numa loja de produtos veterinários.

Edite Fernandes é um nome incontornável no futebol feminino português e na história da Seleção Nacional, que representou de dezembro de 1997 a janeiro de 2017, e ao serviço da qual marcou 39 golos, tendo ajudado Portugal a apurar-se para o seu primeiro Campeonato da Europa feminino sénior. Aos 40 anos, a avançada segue no futebol com as cores do CF Benfica, mas não vive dessa atividade: trabalha numa loja de produtos para animais que também presta serviços veterinários.

"Não posso fazer teletrabalho como muitos portugueses. Tenho de ir mesmo para a loja. Agora trabalhamos em grupos de dois e seguimos uma escala de rotação, em que cada grupo trabalha dois dias e folga outros dois. Quando estamos de serviço, ficamos o dia inteiro, das 09h30 às 20h00", descreve a jogadora, lembrando que os cuidados veterinários e a nutrição animal são "serviços públicos essenciais" reconhecidos pela lei portuguesa.

Sem medo do contágio

O contacto permanente com o público, e com os animais, não assusta Edite Fernandes. "Não penso no facto de estar mais ou menos exposta que outras pessoas. Este é o meu trabalho. A minha mãe, por exemplo, também continua a trabalhar fora de casa. A tarefa mais complicada que tínhamos na nossa empresa caiu. Deixámos de fazer banhos e tosquias. No restante trabalho, seguimos as recomendações das autoridades de saúde. Máscaras, luvas, viseiras, praticamos distâncias de dois metros, desinfetamos tudo e os clientes só ficam à entrada da loja, pois vamos buscar o que nos pedem. Se for para atendimento clínico, entram apenas os animais", conta.

A avançada, que partilha casa com duas colegas futebolistas em Lisboa, a 300 quilómetros da sua família, faz questão de frisar que o medo nunca dominou a sua vida. "Sou destemida e resiliente por natureza. Se me deixasse dominar pelo medo, nunca teria saído do meu país para jogar em sítios do mundo tão diferentes", explica a veterana jogadora, natural de Vila do Conde e uma das primeiras portuguesas a aventurar-se profissionalmente no futebol estrangeiro, com passagens por China, Estados Unidos, Noruega e Espanha.

Revoltada com abandono de animais

Enquanto não regressa o futebol, e, em concreto, a Liga BPI, Edite Fernandes tem como grandes preocupações os direitos e o bem estar dos animais. "Fico revoltada quando leio notícias sobre pessoas que alugaram cães como pretexto para sair de casa. Quando passar a pandemia, o que vão fazer? Abandonam os bichos? Isso deixa-me revoltada", afirma, vincando a necessidade de que as pessoas "sejam responsáveis e cuidem da saúde e das necessidades" dos seus amigos de estimação, com "direitos como os humanos".

Os cuidados a ter, garante, "são simples". "Não permitir, por exemplo, o toque de terceiros durante os passeios - as 'festinhas' podem ser um risco para os animais e para os donos. Quando voltarem para casa, devem lavar as patinhas e o focinho, de preferência, com toalhetes desinfetantes comprados em lojas de produtos veterinários. Assim evita-se a propagação de doenças. É bom que todos percebam que os animais só enriquecem a nossa vida", atira, com convicção.

Novas funções no futebol

Foi há 24 anos que Edite Fernandes se estreou no futebol, então ao serviço do Boavista FC, mas o tempo parece não ter passado para a avançada, que representou mais clubes em Portugal - 1.º de Dezembro, Valadares Gaia, SC Braga e CF Benfica."Quem me conhece, sabe que continuo com o mesmo entusiasmo e a mesma garra a treinar. A paixão pelo futebol não diminuiu nem um pouquinho", garante.

É por isso que não pensa em desistir tão cedo da bola. "A paragem dos campeonatos deu-me tempo para pensar e repensar no que quero fazer. Provavelmente, poderei jogar mais uma época, embora acumulando com outras funções dentro do clube", revela, adiantando que aproveitará todo o conhecimento e experiência acumulados no futebol feminino "para fazer crescer a modalidade no clube". 

Recomendações para prevenir o COVID-19.

Mantenha a atividade física.

Preserve a saúde mental.

Tenha uma alimentação saudável.

A FPF considerou, desde o início da pandemia do COVID-19 ser sua obrigação o lançamento de várias iniciativas de apoio à comunidade desportiva assim como o comprometimento total com as suas responsabilidades sociais.  Saiba mais aqui.


;

Notícias