Uma guarda-redes no olho do furacão

SEMPRE EM JOGO

Andreia Matos joga no Fiães e é enfermeira numa unidade de rastreio móvel à Covid-19.

Andreia Matos joga à baliza no Fiães e está há duas semanas no olho do furacão: trabalha como enfermeira numa unidade de rastreio móvel à Covid-19, realizando uma média de 200 testes por dia a pacientes suspeitos de infeção.

“Em fevereiro, estávamos longe de imaginar a dimensão da doença. Sabíamos que era um vírus respiratório. Pouco mais. Essa fase de desconhecimento foi a mais complicada. Agora a sociedade está mais informada e os profissionais de saúde mais preparados para lidar com o vírus”, começa por referir a guarda-redes, de 26 anos, em conversa com fpf.pt.

Para uma jovem licenciada há pouco tempo, a ideia de ir para o terreno era entusiasmante: “Quando terminei o curso na Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha, fui trabalhar para a Unilabs. Fazia-o a meio tempo, só em turnos matinais por causa dos treinos, e não trabalhava ao fim de semana, devido aos jogos. Com o futebol parado, estive a trabalhar no centro de contacto SNS24. Depois consegui vaga no ‘drive thru’ de Grijó. É um trabalho difícil mas foi para isto que estudei”.

A guarda-redes descreve a sua rotina diária rigorosa: “Chegamos às oito da manhã para desinfetar todo o material e vestir o equipamento de proteção, que é frágil. Nenhum pormenor pode escapar: fato, viseira, máscara, luvas, o kit integral…”. Depois chegam de carro os pacientes suspeitos, referenciados pelo SNS24: “Sabemos de antemão quem são e o primeiro contacto é por telemóvel, sem sairem das viaturas. Depois o paciente dirige-se ao posto mais à frente, onde fazemos a colheita. São horas e horas de pé, e concentração total”.

Apesar das precauções, admite sentir “um pouco de medo” sempre que veste um fato de proteção. “Por mais precauções que se tenha, existe a probabilidade de contágio. Pode acontecer a toda a gente. Como vivo com os meus pais, essa incerteza deixa-me um pouco temerosa. Só entro em casa depois de tirar a roupa toda e o calçado de trabalho”, conta.

Sentido de dever

Para Andreia Matos, o melhor agradecimento que os portugueses podem fazer aos profissionais de saúde “é continuarem a cumprir as recomendações da DGS e as medidas decretadas pelo Governo”. “Não queremos mais nada. Estamos a fazer o nosso trabalho todos os dias, com medo, como as outras pessoas que têm de trabalhar nesta altura. Como disse, estudei muito para chegar a este lugar. Desempenho as minhas funções com dedicação e sentido de dever”, frisa.

Aplicar os ensinamentos do futebol

A jogadora acredita que o futebol a tem ajudado a ser melhor enfermeira. “Somos treinadas para pensar depressa e manter a calma em situações limite. Uma guarda-redes tem de ter ainda mais frieza e serenidade. Na baliza, ouvimos provocações da bancada e comunicamos com a nossa equipa, a equipa adversária e o árbitro. Temos de ser assertivas e fortes psicologicamente. No meu trabalho, todos os dias são diferentes e há pacientes que nos tratam bem e outros que tratam mal. Nessa altura, uso o que aprendi no futebol”, explica.   

Plantel em contacto no WhatsApp

A guardiã do Fiães revela, também, que encontra “um grande apoio” na colega de equipa Andreia Santos, enfermeira no Hospital de São João, no Porto. “Quando tenho dúvidas, falo com ela. Tem mais experiência de enfermagem e está há muito tempo no meio hospitalar. Tem sido um esteio para mim e para todas as colegas”, garante, acrescentando que o plantel feminino do Fiães “está num grupo de WhatsApp onde se partilham dicas de saúde importantes, que ajudam as jogadoras a lidar com o pesadelo que o mundo está a viver”.

O sonho de subir à Liga BPI

Quando regressar aos relvados, Andreia Matos espera que o Fiães SC dê sequência ao bom desempenho na II Divisão. “Estamos em segundo lugar na fase de apuramento de campeão, com os mesmos pontos do Famalicão, que lidera. Ganhámos todos os jogos do campeonato que fizemos nesta época. É claro que o nosso sonho é chegar à Liga BPI”, referiu a guarda-redes, que não abdica de “treinar ao final da tarde”.

“A nossa saúde mental é muito importante e o futebol faz-me sentir bem nesse sentido. Todos os dias, procuro manter os músculos ativos com exercícios. Chego a treinar como se fosse entrar em campo a qualquer momento”, finalizou.

Recomendações para prevenir o COVID-19.

Mantenha a atividade física.

Preservar a saúde mental.

A FPF considerou, desde o início da pandemia do COVID-19 ser sua obrigação o lançamento de várias iniciativas de apoio à comunidade desportiva assim como o comprometimento total com as suas responsabilidades sociais.  Saiba mais aqui.


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6 de Abril 2020
Foto

Fiães SC