Internacionais portugueses dão a cara pelo daltonismo

Diversidade e inclusão

Bruno Fernandes, Jéssica Silva e Petit são embaixadores do projeto europeu #TACBIS, que promove a inclusão de pessoas com daltonismo no futebol.

Bruno Fernandes, Jéssica Silva e o treinador Petit são os embaixadores portugueses do projeto #TACBIS – Tackling Colour Blindness in Sport -, cujo objetivo é promover a inclusão de pessoas com daltonismo no futebol.

Promovido pela EFDN (Rede do Futebol Europeu para o Desenvolvimento), com o apoio de fundos do programa de desenvolvimento europeu ERASMUS+, este projeto conta com a participação da Federação Portuguesa de Futebol e várias entidades do futebol europeu, entre as quais a organização Colour Blindness Awareness, a Universidade de Oxford Brookes, as federações inglesa, islandesa e romena, o clube dinamarquês Randers FC, entre outros.

Este domingo, em que se assinala o Dia Mundial do Daltonismo, os internacionais portugueses Bruno Fernandes e Jéssica Silva chamam a atenção para um problema cuja relevância ainda é pouco reconhecida no futebol e que pode ter um impacto negativo a vários níveis: humano, desportivo e até financeiro.

Além de pretender fornecer evidências da existência do daltonismo no futebol, o projeto #TACBIS visa a criação e distribuição de recursos para apoio a jogadores daltónicos, mas também a outros grupos na família do futebol, tais como adeptos.

"Este ano, o Color Blind Awareness Day [Dia Mundial do Daltonismo] coincide com uma série de jogos da Liga das Nações, pelo que as federações e os nossos clubes parceiros estão a usar isso como oportunidade para promover a causa. Embaixadores de alto nível, como Bruno Fernandes e Jéssica Silva, de Portugal, Gylfi Sigurdsson, da Islândia, e outros treinadores, jogadores e fãs de destaque, estão nas redes sociais despertar consciências e gerar mais conhecimento sobre o daltonismo", refere Kathryn Albany-Ward, fundadora da ONG Colour Blind Awareness, destacando a importância de "envolver na causa todos os 'skateholders' do futebol".

Bruno Fernandes e a importância de distinguir todas as cores no futebol

Ao serviço da Seleção Nacional, que venceu este sábado a Croácia por 4-1, Bruno Fernandes não deixa de assinalar o Dia Mundial do Daltonismo, dizendo que "não poder ver um jogo da Liga das Nações ou do Manchester United na tv a cores, e não conseguir diferenciar cores de equipamentos, cartões e objetos nas bancadas, é algo inimaginável".

"Nenhum dos meus colegas se identifica como daltónico, mas certamente haverá muitos jogadores com essa condição que enfrentam dificuldades no futebol por causa disso. Por isso é tão importante sensibilizar as pessoas para o problema. Por vezes, pequenas mudanças na escolha das cores ou na sinalética que se mete nos estádios podem fazer uma grande diferença. O futebol é uma língua universal e todos têm o direito de a falar claramente e com confiança. O futebol devia ser sempre uma experiência de inclusão ”, afirma o internacional português.

Jéssica Silva quer futebol para todos e todas

"Sabiam que um em cada 12 homens e uma em cada 200 mulheres sofrem de daltonismo?", questiona no Instagram a jogadora do Olympique Lyon e da Seleção Nacional A feminina, que venceu recentemente a Liga dos Campeões feminina, após triunfo por 2-1 na final com o Wolfsburgo. Para a internacional portuguesa, é preciso "fazer mais para que o futebol seja acessível a todos eles e elas [daltónicos]".

Petit, o daltónico que subiu vários degraus no futebol 

O antigo médio e agora treinador Petit contou, em declarações ao Canal 11, que começou a desconfiar que era daltónico aos 19 anos, quando iniciou o namoro com a mulher [Carla Teixeira]. Uma vez apareceu-lhe pela frente com uma combinação "inacreditável" de cores. Excedeu-se nas misturas, "nada combinava naquele look" Ela estranhou, disse-lhe que "parecia um palhaço" e, "provavelmente, não via bem as cores.

Ainda assim, durante muito tempo, julgou tratar-se sobretudo de uma questão de aprendizagem, talvez por isso tenha mantido o daltonismo em segredo no futebol. "Não contava a ninguém. Mas quando fui para a Alemanha [para o Colónia], chegaram a pensar que eu era um 'flop' por causa das minhas reações nos treinos de posse. Dividiam o grupo em três com coletes de cores parecidas e eu não conseguia saber qual era o meu", conta, deixando um pedido aos jogadores mais jovens: "Quem tenham a coragem de partilhar o problema com os seus treinadores na formação porque só assim a sua vida irá mudar".  "A FPF está de parabéns por se juntar a um projeto que pode mudar a vida de muitos para melhor", rematou Petit.

Paulo Lima propõe testes para deteção do problema

Paulo Lima, de 22 anos, joga no meio-campo tal como jogava Petit e também apresenta uma deficiência visual cromática. "Apesar de me ter apercebido do problema aos 12-13 anos, só aos 14 é que falei com a equipa e com os meus treinadores, porque estava a influenciar a minha performance desportiva. Não diferenciava a cor dos coletes, o que parece algo ridíciulo, mas para mim era dramático", descreve ao fpf.pt o médio, que passou pela formação do Sporting CP e representa atualmente uma equipa universitária norte-americana (os Providence Friars).

Futebol e daltonismo não são incompatíveis para Paulo Lima. Pelo contrário: "Um daltónico é tão capaz no futebol como qualquer outro. Os clubes podiam adotar um sistema de testes de pré-época para descobrir jovens com daltonismo nas camadas de base. Em função dos resultados, tomariam medidas para ajudá-los e fazer com que estejam em pé de igualdade com os outros jogadores", defendeu.


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